tag:blogger.com,1999:blog-1046479643046428571.post7180734858447382641..comments2023-08-17T12:40:41.471+01:00Comments on Duas ou tres coisas que eu já sei: Pele escuraHelena Sacadura Cabralhttp://www.blogger.com/profile/11916182095425230786noreply@blogger.comBlogger3125tag:blogger.com,1999:blog-1046479643046428571.post-45035539294008188312009-07-01T16:50:10.429+01:002009-07-01T16:50:10.429+01:00E eu cheguei consigo noutro avião.
Não liguei o te...E eu cheguei consigo noutro avião.<br />Não liguei o telemóvel<br />Porque a alma estava lá<br />Donde parti!Helena Sacadura Cabralhttps://www.blogger.com/profile/11916182095425230786noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1046479643046428571.post-42113702427923270682009-07-01T11:17:28.977+01:002009-07-01T11:17:28.977+01:00no voo de ida reparei numa hospedeira que me olhou...no voo de ida reparei numa hospedeira que me olhou sem necessidade profissional<br />reparei é força de expressão<br />foi pela visão periférica<br />percebi um olhar intenso<br />e fui ver o que era<br />e ela olhava-me fixamente<br />e não desviou o olhar nem se embaraçou<br />simplesmente entregou-me um sorriso bonito<br />e sorri-lhe<br />enquanto duraram os olhares a ver-se e ela a passar<br /><br />ela passou e eu guardei-lhe o sorriso<br />não sei o que fez ela do meu sorriso que lhe dei<br /><br />já não se fuma a bordo<br />e ninguém anda com carteiras de fósforos<br />nem eu ia para Lisboa<br />nem dar uma conferência<br />mas não me impedi de pensar como é um namoro assim<br />como o da Filomena e o comandante alemão<br />ele no ar ela em terra<br />vêm-se quanto nas escalas extemporâneas<br /><br />nestas viagens faço muitas coisas<br />durmo<br />durmo muito quando consigo que não me acordem<br /><br />ao comandante havia de lhe encher a boca de trapos<br />quando se lembra de avisar a altitude, sempre a mesma<br />a temperatura lá fora, sempre a mesma<br />a velocidade, sempre a mesma<br />o trajecto, sempre o mesmo<br />a hora de chegada, sempre a mesma<br />a velocidade do vento, variável<br /><br />podiam estar calados e calarem-se<br />e deixarem-me a alma chegar-se aos anjos<br /><br />acredito em anjos<br />como não acreditar se sobrevivi<br />para contar<br /><br />como foi que não tenha sido um anjo<br />que me guiou<br />que guinou<br />que fez<br />agora<br /><br />só pode ter sido porque não tenho mais explicação<br /><br />no todo racional e engenheiro e de inteligência que tenha<br />a poesia devo-a à vida<br />e a vida ao anjo<br />que tenha tido o desleixo de fugir das suas tarefas celestiais<br />que hão-de estar tão sobrecarregados que sejam infelizes como todos<br />e nessa fuga para descansar da enfadonhisse eterna<br />deve ter achado graça intervir<br />e nessa graça foi coreógrafo do meu ballet estranho<br /><br />há lá coisa mais engraçada que piruetar de carro despistado às 6:45 da manhã<br />entre sons de <i>tears in heaven</i> a plenos pulmões?<br />o anjo deve-lhe ter achado graça brincar a deus por uns segundos<br />de eternidade adiada<br />os segundos em que renasço de todas as cinzas e do cheiro intenso<br />da borracha queimada ao som da luz da madrugada<br /><br />acredito em anjos<br />não<br />acredito num anjo que me tenha feito dançar no palco da estrada para estar aqui<br />e se há um<br />talvez haja mais<br /><br />abro a garrafa de água<br />que coloco um pouco no copo de água<br />e à meia rodela de limão<br />pressiono-a<br />para lhe dar a liberdade<br />de me gostar<br /><br />repito o processo a espaços<br />enquanto<br />escrevo o que me apetece e inspira<br /><br />como as nuvens que são água<br />os passageiros cabeças de fósforos<br />e tudo o que pelo ar me deixe ir sem pressa<br />sorrisos abraços ternuras carinhos<br />bolos pastéis natas travesseiros<br />escrevo entre sonos<br />espreguiço-me quando me levanto<br />a deixar passar a 5A<br />escrevo na memória de adormecer<br />devia anotar não anoto<br />ou me lembro depois ou que se lixe<br />agora durmo o descanso<br />não tenho pressa<br /><br />aterramos<br />tento ver se temos manga ou autocarro<br />as da 14 em diante estão ocupadas<br />falta a 7 que não vejo<br />paramos ao lado da 7 preenchida<br />temos autocarro<br /><br />sou o terceiro a sair<br />já no autocarro<br />vejo todos a descerem<br />telemóveis ligados<br />as conversas sempre as mesmas<br />chegámos<br /><br /><br />PedroPedrohttps://www.blogger.com/profile/02963953064976339153noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-1046479643046428571.post-89279924567765123752009-07-01T11:16:10.740+01:002009-07-01T11:16:10.740+01:00de viagem e avião
uma garrafa de água e limão
vo...<b>de viagem e avião</b><br /><br /><br />uma garrafa de água e limão<br /><i>vous voulez des glaçons?<br />non, mais j'aimerais bien le stick presseur, celui que vient avec le chocolat chaud<br />ça?<br />oui, c'est ça, comment vous appelez ça?</i><br />pelo barulho dos motores vejo-lhe os lábios a falar<br />não ouço e não percebo<br />deve ter dito qualquer coisa de inteligente<br />sorrio<br /><br />é muito bonita<br />como quase todas elas<br />e nem todas fazem sorrisos corteses de serviço<br /><br />alguns sorrisos são de dentro sentidos sentem-se<br />faz uma certa diferença que é toda a diferença<br />para a maioria de quem veja os sorrisos devem ser todos sorrisos<br />para mim não<br /><br />basta ver como fica o rosto depois do sorriso<br />se à volta dos lábios restos de sorrisos convidam a voos sorridentes<br />ou se a rigidez se instala como cadáver que já morreu<br /><br />quase todas matam os sorrisos à nascença<br />prematuros sorrisos moribundos<br />e é triste ver sorrisos nado-mortos que falam da tristeza que lhes vai dentro<br /><br />não se ensinam sorrisos verdadeiros<br />aprende-se da vida quando se é feliz ou se faz por ser feliz<br /><br />a alma humana está por todo o lado e nenhuma situação é enfadonha<br />se existe alguém por perto<br /><br />observo quem passa ou esteja<br />e todo o traço é um filme inteiro<br />que não descodifico completamente<br />nem pretendo não sou deus<br />mas encontro fontes inícios trânsitos estados<br />a maioria em preocupação aflitos<br />quase sempre apressados<br />e alguns em estar calmo porque sim<br /><br />vejo poses olhares fugazes penteados cachecóis<br />e testas<br />as testas dizem muito tanto<br />quando carregadas que têm muitas pistas de autoestradas<br />variadamente completadas com olhos raiados a fazer de ferozes<br />mais algozes deles mesmos<br /><br />nos sorrisos das hospedeiras<br />sinceros<br />nunca se tem a certeza que haja convites<br />e lembro-me do Truffaut no filme em que vem a Lisboa<br />e há um número de telefone numa carteira de fósforos<br />e já não me lembro do resto<br />mas lembro-me dele na Gulbenkian e duma pergunta da assistência<br />que lhe falava disso porque o filme tinha uma conferência em Lisboa<br />e ele estava ali connosco numa conferência em Lisboa<br />e chegou ao palco tal como no filme<br />através da cortina<br />e foi impossível não reparar no dejá-vu<br />e alguém lhe perguntou se tinha uma carteira de fósforos nos bolsos<br />e qual o número de telefone<br />e todos rimos gargalhadas alegres como se amanhã todos continuássemos vivos<br />e ele já tinha cancro e a morte adiada<br />e ninguém sabia<br />e eu era um puto deslumbrado com a vida do cinema<br />que já sabia que o cinema está em todo o lado<br />que ainda não sabia que a ficção é pálida<br />amostra<br />de toda a vida real<br /><br /><br />[continua no próximo comment]Pedrohttps://www.blogger.com/profile/02963953064976339153noreply@blogger.com