Hoje são quatro meses.
Não de espera, mas de saudade.
Dos risos e da ternura
Das diferenças de opinião
Do respeito
E da paixão
Com que defendíamos
Aquilo em que acreditávamos
E do abraço que dávamos
Quando acabava a discussão.
Mas lembro o que nos unia,
Mais forte e intenso que tudo o resto
Porque forjado nas entranhas
Nas carnes e no sangue
De um amor que se exprimia
Por palavras e por gestos
De alegria.
Helena
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Não sei se será de "bom tom" mas partilharei um poema de Sophia de Mello Breyner do qual gosto muito e que leio, em momentos como este:
ResponderEliminar"CARTA AOS AMIGOS MORTOS
Eis que morrestes
agora já não bate
O vosso coração cujo bater
Dava ritmo e esperança ao meu viver
Agora estais perdidos para mim
-O olhar não atravessa esta distância-
Nem irei procurar-vos pois não sou
Orpheu tendo escolhido para mim
Estar presente aqui onde estou viva.
Eu vos desejo a paz nesse caminho
Fora do mundo que respiro e vejo.
Porém aqui eu escolhi viver
Nada me resta senão olhar de frente
Neste país de dor e de incerteza.
Aqui eu escolhi permanecer
Onde a visão é dura e mais difícil
Aqui me resta apenas fazer frente
Ao rosto sujo de ódio e de injustiça
A lucidez me serve para ver
A cidade a cair muro por muro
E as faces a morrerem uma a uma
E a morte que me corta ela me ensina
Que o sinal do homem não é uma coluna.
E eu vos peço por este amor cortado
Que vos lembreis de mim lá onde o amor
Já não pode morrer nem ser quebrado.
Que o vosso coração que já não bate
O tempo denso de sangue e de saudade
Mas vive a perfeição da claridade
Se compadeça de mim e de meu pranto
Se compadeça de mim e de meu canto."
Sophia de Mello Breyner Andresen
Desculpe, querida doutora Helena, se fui demasiado longe na ousadia.
Obrigada Vânia!
ResponderEliminarNão sei se concordo muito com a visão inicial que o poema apresenta, principalmente com o verso "Agora estais perdidos para mim". Ao princípio, quando o li pela primeira vez, até duvidei que fosse de Sophia mas o "desejo de paz nesse caminho" me conforta sempre que o leio, às vezes não escolhemos permanecer aqui e (quase) nos apetece seguir o viajante que já iniciou caminho mas, a verdade é que ainda fazemos falta por cá e por cá permanecemos por força das circunstâncias.
ResponderEliminarNo entanto, o poema parece sofrer uma mudança, como se a autora mudasse de opinião ao longo de escrita e pede "que vos lembreis de mim lá onde o amor/(...)já não pode ser quebrado".
E aqui sim, é Sophia em todo o seu esplendor.
Também eu acredito que os que vão, vão dando sinais da sua presença superior: uma calma que nos invade, uma recordação momentânea e inesperada, um doce aroma de saudade que não dilacera mas enche os olhos de uma estranha felicidade como se soubéssemos que algo maior nos cerca e continua a amar.
PS: foram estas as razões que me levaram a partilhar consigo o poema.
ResponderEliminarHabituei-me a lê-la e a vê-la sempre com grande admiração e é como a Helena de Tróia, como uma vez a Ana Lamy tão bem a retratou, que me lembro de si.
ResponderEliminarUm abraço.
http://viajanteimprevisto.blogspot.pt/
O amor, que é o mais importante de tudo, perdura para sempre!
ResponderEliminarUm enorme beijinho
Isabel Mouzinho
Não nos conhecemos, mas isso não é importante.
ResponderEliminarQuero apenas ser solidário e empático.
A saudade pode ser dolorida (neste caso, é-o!), mas também é a testemunha de um bem que houve e que a memória, ciosa e protetora, guarda como um tesouro...
Bj.
António Pereira
Um enorme beijinho pelo dia de hoje!
ResponderEliminarSim, um abraço apertadinho!
ResponderEliminar... Se conseguisse anexar uma imagem, hoje colocaria uma imagem de uma flor. Infelizmente, não podem ser anexadas imagens a estes comentários.
ResponderEliminarPor isso, receba um enorme abraço (virtual, daqueles que não afagam, mas o melhor que posso fazer).
Um beijinho,
Vânia